O DESCASO NA SAÚDE E OS INTERESSES ANTIDEMOCRÁTICOS
Enquanto existir uma lei maior
(CF/88) que normatiza as relações, nas sociedades avançadas e democráticas as
atividades e os serviços de interesses coletivos precisam ser cumpridos como
dever do Estado. Nas sociedades fechadas e antidemocráticas o Estado assume papel centralizador como
único executor de serviços essenciais, descumprindo normas consolidadas.
O Brasil esta passando por um
processo de transição, onde a proposta atual do governo federal e de alguns estaduais
é reduzir o papel e o poder hegemônico do Estado, como a concepção liberal das
privatizações. Nesse processo, a sociedade civil também foi convocada a assumir
seu papel não só como instrumento de controle social, mas também no resgate da
participação efetiva.
Mas
nesse meio termo a população não esta respondendo ao seu papel como protagonista de inovação e
solidariedade, visando a coletividade. O voluntariado perdeu espaço para organizações
com interesses corporativos, comerciais, político-partidários e ideológicos.
Na
área da politica os parlamentares perderam o senso democrático de cidadania,
legislando em causa proporia. Os magistrados se encistaram num mundo de
privilégios e interesses escusos, em vez de defender os apelos da sociedade e
da Constituição.
Nesse
jogo espúrio e interesseiro os grandes temas nacionais, como saúde, educação e
segurança, ficam na superficialidade e as suas politicas públicas, já
consolidadas, ficam sendo mudadas no
sentido de atender grupos, políticos e governantes. Prevalecem as Medidas
Provisórias (MP), PECs, Orçamento Impositivo, como no SUS, que está passando
por um processo permanente de desmonte e descrédito.
As
grandes estratégias das politicas públicas do SUS como os Programas de Agentes
Comunitários, PSF, Imunização e Vacinação, Controle de Endemias, Saneamento
Básico, estão sendo tratados de maneira emergencial e pontual e não de maneira
permanente, com retorno de antigas doenças já controladas como Sarampo, Febre
Amarela, Chagas, Coqueluche, Varicela, Tétano e outras mais.
Na
tentativa de querer encobertar a incompetência e a má gestão, os governos
apelam paras as OS (Organizações Sociais), uma maneira de terceirizar os
serviços com comando privado, mas com recursos públicos, o que serve para
burlar normas, retirar garantias trabalhistas e reduzir custos, levando à má qualidade
e ineficiência do serviço.
As
Prefeituras inoperantes não conseguem arcar com suas responsabilidades e
competências na gestão da atenção primária. As UBS são construídas e
reformadas, mas os equipamentos continuam obsoletos e sucateados, sem
investimento na modernização, virando obras de fachada.
Assim
está a saúde coletiva brasileira, reformulada na CF/88 com uma concepção socialista e democrata, mas
com execução privatista, mercantilista e tirânica. A PEC 241 congelou os gastos da saúde e educação por 20 anos, a fim
de cobrir os rombos e roubos da corrupção. O mais recente exemplo disso foi o
repasse de recursos para as emendas de bancada, na ordem de mais 2,5 bilhões, com a mesquinha
justificativa de que metade ira ser destinada à saúde.
Assim,
o SUS, que deveria representar um avanço de democracia, representação,
organização, conscientização, cidadania, solidariedade e equidade, ficou apenas
no conceitual, sendo utilizado como instrumento de manobra. A sociedade civil
perdeu seu papel de controle social. Os Conselhos tornaram-se obsoletos e
aliciados pelos poderosos, gestores e governantes.
E
assim, a saúde coletiva e o SUS não avançam, se deterioram e entram em
decadência, movidos por interesses espúrios de grupos políticos, e com o aval
das urnas e das eleições, em que a população continua legitimando com o título
e com o voto . JARBAS ATAÍDE. 02.08.2019.
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