Pioneirismo
Uma homenagem ao ‘Dia dos Pais’
“E como pessoa construiu um telhado de sabedoria para os que com ele conviveram. Mesmo autodidata e semianalfabeto curtia de Roberto Carlos a Mozart e adorava beber seu Whisky ouvindo uma sanfona ou um violino na velha vitrola da sala de visita, onde recebia todos com elegância e educação, ESTE ERA MEU AVÔ”.
Benedito Ferreira do Nascimento – Mestre Benedito – Operário da Vida. MEU AVÓ E MEU PAI
Reinaldo Coelho
Para homenagear todos os pais, em seu dia, que que será comemorado neste domingo (11), estaremos contando a história de um grande homem nascido no dia 12 de agosto, e que se tornou pioneiro no Amapá e foi o esteio da família Nascimento e que criou -me dando muito de seu caráter, a honestidade e sabedoria de viver com o pouco que tinha, mas que era muito pois, ainda dava para dividir com os que mais precisavam. Ele tinha uma maneira de agir e de fazer os movimentos de sua vida e dos que dele dependiam – “Escutar mais, falar quase nada e fazer muito”. É a história de um dos grandes mestres de obras do Amapá, Mestre ‘Bené’ (Benedito Ferreira do Nascimento).
Nascido em Curralinho, um município paraense, em 12 de agosto de 1912. Se vivo fosse estaria completando 107 anos este ano. De família atuante no roçado e na pecuária como todas as comunidades dentro do arco Marajoara.
Nascido em Curralinho, um município paraense, em 12 de agosto de 1912. Se vivo fosse estaria completando 107 anos este ano. De família atuante no roçado e na pecuária como todas as comunidades dentro do arco Marajoara.
![]() |
Mestre Benedito, meu avô, na colação de grau da minha irmã Maria das Graças Nascimento |
Porém, Benedito Ferreira do Nascimento teve seus estudos primários paralisados na segunda série, tornou-se autodidata, possuía uma caligrafia corrida, admirada pelos companheiros profissionais mais capacitados. Era atento ao noticiário conidiano e político do Brasil e do mundo, através das leituras diários dos jornais impressos E DE SEU RÁDIO A PILHA ATRAVÉS DAS ONDAS DA ‘A VOZ DAS AMÉRICAS’.
A carpintaria era sua profissão e a marcenaria sua arte.
A carpintaria era sua profissão e a marcenaria sua arte.
Era o mais velho de uma família de três irmãos, (Benedito, Nestor, Alcídia). Casou-se com Josefina Moura do Nascimento, com quem gerou três filhos, sendo que as gêmeas, pereceram de malária, que minava as matas amazônicas, e o caçula Raimundo Moura do Nascimento, adoeceu da mesma doença e para evitar a perda do único filho o casal deslocou-se imediatamente para Macapá, em 1939, passando a residir na Rua Beira da Praia, hoje orla de Macapá.
Nesse período, já em Macapá, Benedito Nascimento começou a trabalhar como carpinteiro e nas horas vagas construía mesas, camas e utensílios diversos como marceneiro. Como o serviço rendia pouco sua esposa Josefina, mais conhecida como Dona Nenê, passou a ‘lavar para fora’ e sua lavanderia era as águas do caudaloso Rio Amazonas, e tinha no filho Raimundo Moura do Nascimento, conhecido por Gatão, o entregador das roupas lavadas e engomadas.
O Amapá é transformado em Território Federal e com o advento das obras públicas os trabalhadores – pedreiros, carpinteiros e pintores – se tornaram mão-de-obra de primeira linha e o governo Janary Nunes, contemplou os grandes mestres e pequenos construtores e se tornam Mestres de Obras e assinavam constados com o então governo e passaram a construir a infraestrutura da capital amapaense, que receberia as repartições públicas que dariam o ponta pé para o crescimento do Amapá.
Mestre Julião e Mestre Benedito capitanearam diversos operários e montaram suas equipes. Ele, mestre na carpintaria, recebeu a incumbência de construir os telhados do Hospital Geral de Macapá e da Maternidade Geral. Mestre Benedito participou das obras de escolas e postos de saúde nos municípios, entre eles o Barão do Rio Branco, ex-Instituto de Educação do Amapá (IETA), o Hospital Geral de Macapá (a primeira unidade de saúde da capital).
![]() |
Meu avô Benedito Ferreira do Nascimento e sua 'magrela', veiculo de transporte de trabalho e lazer. |
Como o crescimento populacional de Macapá e a pretensão do governo em realizar mudanças na frente da cidade, com a construção da residência oficial, Macapá Hotel e as residências dos primeiros gestores do segundo escalão, Janary começou a demarcação de terrenos a partir da General Rondon e doou aos que prestavam serviços do governo. Caso do Mestre Benedito que foi agraciado com um terreno na Avenida Presidente Vargas, entre as Ruas Eliezer Levy e Odilardo Silva, que recebeu o número 56. Medindo 35 x 40 começou a construir sua residência, e sua esposa, com a eficiência de seu trabalho de lavandeira, recebeu dos primeiros diretores a missão de lavar para a cúpula do governo dos uniforme de Janary Nunes ao do Dr. Hildemar Maia, que mais tarde seria padrinho de casamento de Raimundo Moura do Nascimento e de Zoraide Coelho do Nascimento.
Realizando grandes serviços estruturais para que o governo Janary Nunes pudesse administrar o Amapá, Mestre Bené teve seus serviços reconhecidos e ao ser instalada a mineradora ICOMI, e o governador Janary Nunes ter sido escutado sobre operários que poderiam atuar com os engenheiros americanos, Mestre Bené foi indicado e colocado a disposição da empresa.
Na ICOMI, contrato em 19 de janeiro de 1954 e foi Chapa no 416 e recebeu a incumbência de Encarregado de conservação de obras no Serviço de Conservação. Foram muitas as missões dentro da ICOMI, manutenção do cais flutuante, da Estrada de Ferro do Amapá, na área interna da empresa, de obras de manutenção na Vila Amazonas, onde recebeu uma residência para residir na Vila Intermediária e quando concluiu sua casa em Macapá se mudou.
Recebeu diversas honrarias da empresa, uma delas foi quando completou dez anos de serviços prestados e ganhou um relógio e uma viagem até o Rio de Janeiro, sua primeira viajem de avião e a primeira que se afastava da família, que além do filho, criava dois netos, Maria das Graças Coelho do Nascimento e Reinaldo Coelho do Nascimento, que honrou com uma criação voltada para a formação acadêmica e de personalidade do bem.
Benedito Ferreira do Nascimento era uma pessoa séria e, para muitos, sisuda, porém católico praticante, tanto que foi membro do grupo de homens da Associação São João Bosco, que tratavam de trabalhos sociais voltados para os mais carentes, honesto e metódico, não gritava nem ameaçava, mais seu olhar dizia o que ele pensava. Não aceitava injustiça.
Seu meio de transporte desde os primeiros anos foram sempre uma bicicleta Monark que ia percorrer Macapá e servia de transporte de seus instrumentos de trabalho. Após aposentar-se dedicou-se ao empreendedorismo e adquiriu seu primeiro automóvel na Loja Zagury, que representava a marca Chevrolet no Amapá e em seguida adquiriu mais três carros e criou uma frota de táxi, onde seus motoristas eram amigos e recebiam suas comissões em dias. Tudo era anotado em seus cadernos, da conta de luz as compras nos supermercados.
Pagava seus credores em dia, desesperava-se com as cobranças, porém a aposentadoria não lhe fez bem, pois tinha tempo livre demais e passou a cuidar de plantas e durante a podagem de um abacateiro, com a quebra de um galho, machucou a virilha e trouxe o mau do século para sua vida. Um câncer de próstata que lhe ceifaria a vida.
Foi um tratamento longo e dolorido, pois o Amapá não tinha nenhuma estrutura para atender esse tipo de doenças, somente no Pará, e a hemodiálise se tornou o único meio de mantê-lo vivo e foram infindáveis viagens a Belém, com fretes de avião, outras vezes a Cruzeiro do Sul com o beneplácito dos Irmãos Zagury e de Laurindo Banhos gerente no Amapá.
A luta foi inglória, mesmo com o esforço sobre humano do grande médico Antônio Teles, que na época era recém-formado e trazia todas as novidades de combate a essa triste doença que até hoje leva inúmeras vidas no Amapá.
Benedito Ferreira do Nascimento faleceu em sua residência no dia 30 de abril de 1985, há 33 anos, logo após a perda do presidente Tancredo Neves.
Mas Mestre Bené deixou suas marcas irreparáveis nos telhados dos prédios públicos que construiu com seriedade e honestidade e que após anos continuam de pé e cumprindo a sua finalidade, proteger as pessoas que usam esses prédios.
E como pessoa construiu um telhado de sabedoria para os que com ele conviveram. Mesmo autodidata e semianalfabeto curtia de Roberto Carlos a Mozart e adorava beber seu Whisky ouvindo uma sanfona ou um violino na velha vitrola da sala de visita, onde recebia todos com elegância e educação. Seu domingo era sagrado para a família, almoço em família era importante. Saudades meu avô, 34 anos sem você.
Obrigado!
Nenhum comentário:
Postar um comentário