quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

MERCADO CENTRAL DE MACAPÁ É ENTREGUE AOS MACAPAENSES


Mercado Central: a história do mais antigo centro comercial de Macapá


O mercado central é um dos cartões postais para quem chega em Macapá, pois fica localizado na Cidade Velha e tem como vizinhos a Fortaleza de São José de Macapá, Igreja Matriz e a Orla da Cidade, com a vista do majestosos Rio Amazonas.


Reinaldo Coelho

Nesta quinta-feira (16) será entregue a população macapaense, após 4 anos de reforma e com um custo de mais de R$ 3,6 milhões aos cofres públicos, financiados pelo Fundo Calha Norte através de um convênio com a prefeitura da cidade, e ainda emenda do Senado e mais contrapartida do Município.

“Esses recursos visam não apenas a reforma e a revitalização, mas a adequação do mercado para atender as necessidades do empreendedor, cada um na sua particularidade, para que ele possa receber o público que vai conhecer o novo Mercado Central”, declarou David Covre, secretário de Obras de Macapá.

O mercado mantém a sua arquitetura colonial e conta hoje com 63 boxes, sendo 21 quiosques com divisórias em vidro e mais 3 ilhas na área térrea, 24 no espaço superior (mezanino) e 15 boxes no entorno. O ponto turístico terá ainda espaço para shows, elevador de acessibilidade, novas escadas, telhado termo acústico, piso em porcelanato e, na parte externa, calçadas por toda a área do entorno, além de um espaço de jardim na entrada.

A área conta com novidades que visam fomentar o turismo, a economia e cultura local, com a comercialização de alimentos e bebidas, artesanatos, artigos religiosos, além de serviços de barbearia, ervaria, relojoaria e ourivesaria.

PROGRAMAÇÃO DE INAUGURAÇÃO

A festa iniciará com a cerimônia de inauguração, seguida de apresentações de Marabaixo e culminando, no fim da tarde, com o Festival de Samba e Chorinho. Além disso, durante todo o dia o espaço terá feira de artesanato e exposição de artes visuais.



PROGRAMAÇÃO

7h às 9h – Programas de rádio no Mercado Central - entrevistas com os empreendedores, secretários, comerciantes do entorno;
9h – Cerimônia de abertura;
10h – Apresentação de grupos de Marabaixo – Raízes do Bolão, Ancestrais e Favela;
17h – Programas de rádio;
18h – Festival de Samba e Chorinho:
- Beto 7 cordas e Lolito do Bandolin (Grupo Vou Vivendo);
- Perfil do Samba;
- Samba de Jorge;
- Samba do Morro;
- Trio Bom Ki Só;
- Bateria Tucuju, com participação especial de Chory, Kinzinho AP, Marcelinho do Cavaco, Cleide e Catatau.



HISTÓRIA
Fundado em 13 de setembro de 1953 pelo então governador Janary Gentil Nunes, o mercado foi por décadas o principal entreposto de comercialização de produtos agrícolas que chegavam à cidade pelo Canal das Docas da Fortaleza ou pelo Trapiche Eliezer Levy.
Nessa época, a área comercial de Macapá ficava restrita à Doca da Fortaleza e a Rua Cândido Mendes. Faz parte da única parte tombada da cidade de Macapá: A área do entorno da Fortaleza de São José. O prédio foi construído de frente para a Avenida Cândido Mendes, principal rua do comércio local.
A Praça onde está o Mercado é denominada de Theodoro Mendes. Em homenagem ao ex-prefeito de Macapá no período de 1896 a 1916, juntamente com o Coronel Coriolano Jucá, que foi de Intendente a prefeito.


A finalidade do mercado era a comercialização  desses produtos hortifrutigranjeiros,  já ali existindo bares, cafés, salões de barbeiro, e no seu entorno, circundado pelas carroças que transportavam os produtos, as barracas de madeira se enfileiravam para a venda de alimentos, pois as canoas aportavam no igarapé da Fortaleza que deu origem ao Canal da Mendonça Junior, na esquina da Avenida Candido Mendes.
Ali fervilhava as vendas das produções feitas no interior do Amapá e do Pará, desde da farinha a falinha caipira, do peixe a carne bovina, que era abatida no trapiche existente no Elesbão, hoje Parque do Forte. Em seu entorno cresceu as ‘baiucas’, que recebia os canoeiros e tinha de tudo, inclusive casas de ‘intolerância’.

“CLIP BAR”

Logo após a conclusão do Mercado também foi erguido, em frente, um ponto de ônibus que ficou conhecido como “Clip Bar”, que era um estabelecimento comercial (um bar) que servia de abrigo de passageiros para os ônibus circulares da cidade.
Ainda no ano de 1953 houve o início da imigração japonesa para o estado do Amapá, 29 famílias vieram diretamente do Japão de um navio atraídas pela extração da borracha e acabaram permanecendo para desenvolver atividades agrícolas, contribuindo com o Mercado Central.
“BAR DU PEDRO”

Na parte externa, pela lateral da Avenida Antônio Coelho de Carvalho, situa-se o Bar Du Pedro, o estabelecimento mais antigo em funcionamento. O bar foi inaugurado junto com o mercado e pertencia a um comerciante chamado Pedro, originário do Rio Grande do Norte que morou no Amapá na década de 1950. Quando faleceu, na década de 1990, seu filho Luiz Gonzaga assumiu o negócio da família.
Na década de 1980, o famoso ‘Bar Du Pedro’, transformou-se no point cultural, com músicas ao vivo e rodadas de samba, O público é diverso, formado por diferentes classes sociais. Era ponto de encontro dos macapaense, atraia todos centenas de visitantes de todos os lugares pois guarda grandes memórias e muitas histórias para contar.

PROSPERIDADE

Em 1973 o Mercado Central e este, com participação ativa dos comerciantes ao longo dos anos, ampliou suas atividades, expandiu seus negócios e se transformou em um centro comercial não só de produtos alimentícios, mas também de comércio em geral e produtos típicos, e se transformou num dos principais pontos turísticos de Macapá.

TRANSFORMAÇÕES

A mudança no Mercado Central foi acontecendo de acordo com as transformações que aconteciam com a cidade de Macapá. A capital amapaense, após a transformação do Amapá em estado, sofreu impactos maiores na seu crescimento e o aumento e expansão urbana, surgindo novos bairros e com eles as pequenas feiras, o que começou afastar a clientela do velho Mercado Central, ficando seus ‘talhos’ às moscas, literalmente. O nocaute aconteceu com a chegada dos supermercados. E os açougueiros pioneiros mudaram para os bairros, onde a clientela proliferava. 

No governo de Annibal Barcellos, sofreu uma reforma e a construção do mercado de peixe, além de transformação em boxes para pequenos restaurantes. Porém, mais uma vez a decadência bateu nas portas do mercado mais antigo de Macapá.

Preocupados os pequenos empresários que a décadas ali atuavam criaram a Associação Amigos do Mercado Central em 7 de outubro de 2004, com o objetivo de fortalecer os empreendedores e buscar o desenvolvimento do mercado. Um dos fundadores é o seu Antônio Macedo, que esteve como presidente da associação por 11 anos. Ele diz que, à época, eram somente 8 pessoas que faziam parte da associação.
“Começamos com essa quantidade, mas logo fomos crescendo, e hoje são 22 associados. Todos empreendedores, de dentro do Mercado Central. Nossa luta sempre foi manter viva a tradição do nosso mercado, não deixar esse espaço ser esquecido”, comenta o fundador da associação.
MERCADO CULTURAL
Uma das propostas da Associação Amigos do Mercado Central era resgatar o movimento de clientes. Com a expansão das redes de supermercados, mercados e feiras, já havia se perdido a grande freguesia. Foi então que surgiu a ideia de trazer artistas locais para apresentações em shows com Música Popular Brasileira e Amapaense, samba e pagode.
A revitalização e ampliação do Mercado Central sempre foi uma das bandeiras de luta da Associação de Amigos. Seu Antônio diz que o espaço estava em decadência e não podia se fechar os olhos diante disso. Por isso, a luta incansável pelo resgate da estrutura física do local.
“O prefeito Clécio sempre esteve nessa luta conosco, desde quando ainda era vereador. Não só ele, como também o senador Randolfe Rodrigues, que foi quem conseguiu recursos para a reforma e ampliação, por meio de emenda. Essas melhorias não serão só para os empreendedores, como também aos visitantes, que terão um espaço amplo, bonito, confortável, uma grande oferta de serviços, como a venda de diversos produtos, alimentos, artesanato, programação cultural, e tudo isso fomentará ainda mais a cultura e o turismo”, diz Antônio Macedo, hoje conselheiro da Associação Amigos do Mercado Central.
REVITALIZAÇÃO

O Mercado Central está sendo revitalizado com recursos provenientes de emenda parlamentar do senador Randolfe Rodrigues, no valor de R$ 2,5 milhões, e mais contrapartida do Município. A Prefeitura de Macapá irá entregar ainda este mês o novo Mercado Central. O espaço fica localizado na Rua Cândido Mendes, Centro, e funcionará de segunda a segunda, das 6h às 20h.
  “Os empreendedores são aqueles que já trabalhavam no mercado. São vendedores que têm uma história de mais de trinta, vinte anos de relação comercial com este espaço histórico de Macapá. Além disso, absorvemos os que estavam na área externa. A entrega será um marco, cheia de simbolismo para toda nossa população. Tínhamos trinta vendedores dentro do mercado. Hoje, duplicamos esse número e temos 64 no total”, explica o secretário.

O MERCADO CENTRAL DE MACAPÁ É PATRIMÔNIO CULTURAL
O Mercado Central se constitui em um riquíssimo Patrimônio para o povo do Amapá, pois não somente representa uma fonte para estudos arquitetônicos, mas, principalmente, por ter sido um local onde aglutinou e aglutina uma riquíssima diversidade de identidades amapaenses. Não se pode simplesmente deixar de lado tamanha construção para que se atenda a objetivos estritamente comerciais. Existem diversas maneiras de se valorizar uma obra como esta sem sacrificar a nossa memória. Seria o caso de uma estruturação em forma de galeria, por exemplo. É claro que temos como objetivo primeiro que tomar atitudes visando a não destruição do Mercado Central, mas seria o caso de pensarmos em o que fazer com ele. Não é necessário que ele seja sempre um mercado. Temos que olhar pelo ponto de vista dos trabalhadores que ali se concentram e seria razoável, como outra proposta, que eles fossem deslocados para um local estruturado enquanto se fizessem daquele espaço um descente Museu Histórico para a nossa cidade. Digo isso com muitas restrições, pois não é fácil ser despejado de um local onde se retirou o sustento de sua família por anos e anos.

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