ACIDENTES, FRATURAS E
CORONAVÍRUS: A PREVENÇÃO NEGLIGENCIADA
Por Jarbas de Ataíde
Querer justificar como acaso, destino ou
imprevisível o acidente fluvial do navio Anna Katarina III, no Rio Jari, sul do
Amapá, com mais de 30 óbitos e vários desaparecidos, é querer encobrir a
verdade. Mesmo depois da tragédia do naufrágio do Novo Amapá, no início da
década de 80, que vitimou centenas de pessoas, esses fatos lamentáveis
continuam a macular o Amapá.
A Marinha e a Capitania dos Portos fazem
campanhas educativas, alertando para o cumprimento das medidas de segurança.
Mas a fiscalização apresenta falhas, associada à negligência dos responsáveis
pelo transporte fluvial e pela falta de denuncia dos passageiros. Os acidentes
de transporte, tanto nos rios, como nas estradas, são cada vez mais frequentes,
gerando desgraças, como no atual naufrágio.
Os órgãos de vigilância, agencias
reguladoras e órgãos de controle, nas três esferas, responsáveis no controle e
fiscalização das medidas de promoção e prevenção desses acidentes falham no
rigor e no protelamento das punições e no abrandamento das multas, o que acaba
por incentivar que os crimes continuem.
Igualmente, a epidemia de coronavírus,
que a cada dia aumenta e que já chegou na vizinha Guiana Francesa (5 casos
confirmados), é outra prova de que as medidas básicas e preventivas de saúde,
tanto individuais, quanto coletivas, falham no cumprimento de normas e regras.
Elogia-se o SUS, mas ele é burlado e subfinanciado, impedindo que a assistência
chegue ao cidadão.
Se a vigilância em saúde e a atenção básica
são proteladas, imagina deixar cirurgias e fraturas de urgência esperarem dias
e meses para serem resolvidas, gerando revolta e sofrimento aos doentes. Em 2017 o Conselho Federal de Medicina-CFM já
denunciava a existência de 900 cirurgias em fila de espera no Brasil. No quadro
de espera, apresentado no Jornal Medicina, de outubro/2017, o pedido de acesso
aos números da SESA-AP não foi atendido, por desorganização ou negação de
informação.
No Amapá as cirurgias ortopédicas e
traumatológicas são encaradas como motivo de mutirão ocasional, como as que
ocorreram no Hospital de Emergência-HE nos meses de jan-fev-2020, em que foram
realizadas 196 cirurgias de fraturas em 25 dias, cujo objetivo, segundo os
gestores, era desafogar a rampa de acesso e os corredores, nos quais os doentes
se amontoavam, por falta de leito.
Segundo o G1amapá, as cirurgias
ortopédicas feitas, que se avolumaram por meses no H.E , eram na maioria fraturas decorrentes de acidentes
de trânsito em homens entre 15 e 39 anos, faixa etária de plena atividade
educativa e profissional, o que prejudica as atividades habituais das vítimas.
“O mais grave é que, em algumas
cirurgias, a espera complica o quadro do paciente, que pode ter sua saúde
comprometida...”, que na ortopedia poderá gerar debilidades permanentes para o
resto da vida, afastando do trabalho. “...Cirurgias eletivas (com menos custos)
podem evoluir para cirurgias de emergência, cujas consequências podem ser
trágicas”, cita o jornal Medicina. No
Brasil as cirurgias eletivas mais demandadas são na área de ortopedia,
oftalmologia, otorrinolaringologia, urologia e cirurgia vascular. Ainda restaram dezenas de cirurgias
ortopédicas que foram transferidas para o HCAL, pois eram mais complexas.
Enfim, o Comitê de Contensão da SARS-
Cov-19, estabelecido em janeiro, entre a SVS/MS, SESA-AP e Prefeitura de
Macapá, terão que executar suas medidas de maneira mais efetiva e
imediatamente, pois a ampla fronteira do Oiapoque, sujeita à entrada do vírus,
esta desguarnecida e a Secretaria Municipal não está capacitada para fazer a
fiscalização e controle da entrada de estrangeiros, vindos da Guiana e da
Europa, que transitam livremente nessa área. Na Vigilância Sanitária não há
mutirão e na saúde não há espera. JARBAS
ATAÍDE. 02.03.2020.
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