quinta-feira, 9 de julho de 2020

AÇAÍ NOSSO DE TODO DIA Pesquisas e técnicas sanitárias ajudam a qualificação da produção do açaí amapaense. Embrapa e IEPA avançam nessas atividades cientificas.


              AÇAÍ NOSSO DE TODO DIA
Pesquisas e técnicas sanitárias ajudam a qualificação da produção do açaí amapaense. Embrapa e IEPA avançam nessas atividades cientificas.




Consolidado como produto alimentar e gerador de rendas. O açaí é de importância incalculável para a região amazônica em virtude de sua utilização constante por grande parte da população como alimento e para os ribeirinhos como gerador de rendas. As instituições de pesquisas estão investindo para a melhoria das ações sanitárias e de higienização do produto antes de seu consumo.

Reinaldo Coelho

O Açaí é hoje um dos produtos brasileiros com maior prestígio no mercado internacional de sucos saudáveis; em 2018 contribuiu com cerca de 600 milhões de reais para a economia regional amazônica. Por seu potencial como alimento de elevado interesse já adotado pelas gerações fitness que buscam saúde e sabor, foi razão de uma disputa jurídica internacional ruidosa, alguns anos trás – foi registrado em 2003 como marca própria da empresa K.K. Eyela Corporation no Japão, e só retomada pelo governo brasileiro em 2007.

Porém, o açaí é um dos produtos alimentar típico dos brasileiros nortistas, estando diariamente no cardápio de milhões de amazônidas e é considerado um dos maiores agregador de valores ao PIB dos estados da Região Norte. A cadeia de produção desde a colheita ao consumidor, vem gerando renda e empregos e de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que houve uma produção de cerca de 200 mil toneladas de açaí por ano na região Norte, a partir de 2011.



Nesse contexto, sobressai o açaí como produto da floresta e a base da alimentação do caboclo. O açaizeiro destaca-se, entre os diversos recursos vegetais existentes, devido a sua abundância e por ser um importante alimento para as populações locais, em especial as ribeirinhas.

Porém o produto ultrapassou os limites da Amazônia e se internacionalizou e a produção de frutos nativos que provinham quase que exclusivamente do extrativismo, a partir da década de 1990, passou a ser obtida também da sua industrialização transformadas em polpas e sucos. Além de que o Açaí é hoje um energético muito procurado e apreciado internacionalmente aos adeptos dos regimes saudáveis alimentar.

MESA DE CATAMENTO DE AÇAÍ

Para se manter em alto nível de consumo com segurança, muito tem sido investido em pesquisas e técnicas de higienização e controle sanitário. Os questionamento tem sido realizados e pesquisadores especialistas na atividade sobre o açaí o tem conduzido com sucesso. A Embrapa e o IEPA tem especialistas e pesquisadores voltados para a constante inovação das melhorias da qualidade do produto.

INVESTIMENTOS EM PESQUISA
 
​Pesquisadores da UFSM descobrem o potencial do açaí no tratamento de doenças psíquicas
Muitos problemas surgiram com referência ao consumo do açaí in natura, devido sua produção ser realizada por milhares de autônomos, denominados batedores de açaí, disseminados em todos as ruas dos bairros das cidades amazônicas. A falta de higiene dos locais, o manuseio do produto sem a devida higienização foi um dos quesitos que  trouxe à tona uma contaminação de moradores pelo vetor da doenças de chagas, o Barbeiro, e feita as pesquisas o resultado apresentou o Acaí como o meio introdutor da moléstia.


Porém, o açaí não pode ser visto como vilão, pois não é o fruto que estar suscetível à contaminação do parasita, mas sim o modo como ele é preparado. Ou seja, o açaí não transmite a doença e é possível ingeri-lo sem riscos, desde que se tome os devidos cuidados com a higienização.


Essa suspeita de contaminação diretamente pelo vinho do açaí já havia sido levantada em 2006, até ser confirmado em 2010 que não havia ligação, graças a estudos da Unicamp, da UFRJ e do Instituto de Pesquisas Nucleares (Ipen).

O fruto do açaí é contaminado quando o barbeiro ou as fezes dele se misturam à polpa durante o processamento. Às vezes, reservatórios utilizados na produção do vinho de açaí também podem ser contaminados.


Produção artesanal do açaí
 é
 padronizada por meio de decreto
Essa situação de saúde público levou o poder público e instituições sanitárias e de fiscalização a atuar no melhoramento dos locais e do pessoal envolvido com o manuseio do Açaí. Foi recomendado e exigido a reforma dos pontos, com construção em alvenaria e totalmente lajotada, água filtrada e o branqueamento do caroço. Além de treinamento dos comerciantes e a obrigatoriedade do uso da Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como: mascaras, aventais, botas de borrachas e touca.

Existe um vácuo
Além de alimento a colheita e venda do Açaí é o únivo gerador de rendas dos ribeirinhos

Porém existe um espaço entre a comercialização do vinho do açaí e sua colheita. A técnica para a colheita é realizada de modo rústico e manual, o ribeirinho usa à técnica de subir na palmeira, de diâmetro fino, que pode chegar até 30 metros de altura, a extração é feita o ano todo com épocas de boas safras e de baixa safra.

E de acordo com pessoas que vivenciaram essa técnica, caso do cardiologista José Cabral de Castro, que teve a base de sua carreira construída pelos seus pais que eram ribeirinhos e produtores do vinho do açaí, com sua batedeira sediada na Rua Tiradentes esquina com a Padre Júlio Maria Lombard, residência da família Cabral. Não sendo portanto, um curioso ou desconhecedor do assunto.
A palmeira do açaí é bastante alta, na floresta, porém de porte médio, se cultivada isoladamente - Crédito Foto  divulgação

“Na minha vida toda, nunca vi um Barbeiro voar até a altura dos cachos de Açaí. Eles tem voo baixo e pesado, logo, eles não atacam o fruto quando ainda estão nas vassouras, no alto das árvores. O que observo é que a coleta do fruto é feita durante o dia e colocados em paneiros, cobertos imediatamente ou não. Em muitos casos tais paneiros são depositados no beiral das casas esperando para serem transportados e invariavelmente debaixo de telheiros onde existe iluminação elétrica na parte externa das casas”.
O médico cardiologista detalha que o barbeiro, assim como outros insetos são atraídos pela luz das lâmpadas e caem sobre os paneiros carregados de Açaí, é nesse momento que acontece a contaminação.

Antigamente, como não havia iluminação elétrica rural, os Barbeiros não eram atraídos e não caiam sobre os mesmos paneiros que, tradicionalmente sempre foram colhidos, armazenados e transportados da mesma forma que é hoje, com a única diferença da iluminação.

José Cabral de Castro, enfatiza que talvez a solução para a contaminação seja mais fácil de que se imagina, basta um melhor acondicionamento do produto entre a colheita e o transporte.”
RESIDENCIA DO RIBEIRINHO ONBDE É GUARDADO O AÇAÍ COLHIDO

A editoria do Tribuna Amapaense realizou contatos com a Embrapa e ao IEPA, através da pesquisadora Josiane Nogueira Muller, especialista em barbeiros, que apresentou a seguinte argumentação:

IEPA
Como reconhecer e coletar o barbeiro encontrado no Açaí?

Essa é uma dúvida recorrente, pois o barbeiro é um inseto que transmite o protozoário (Trypanosoma cruzi) que causa a doença de Chagas, conhecida também como doença do coração grande.

A editoria do TA conversou com a pesquisadora, Bióloga e Mestre em Medicina TropicalJosiane Muller, que explicou que aqui no Amapá eles podem ser encontrados visitando as casas à noite atraídos pela luz e eventualmente serem vistos junto com o açaí, na hora do armazenamento ou durante e após a catação do fruto.
Placas educativas 
de Rhodnius pictipes: barbeiro 
encontrado no Amapá.

“O barbeiro é um inseto que possuí três pares de pernas e cinco momentos juvenis, conhecidos como ninfas, antes de se tornarem adultos. Em todos os estágios de vida eles se alimentam de sangue, mas o mais importante é saber que o perigo está nas fezes do barbeiro, portanto não devemos esmagar, bater ou danificar o inseto, devemos proteger a mão com luva ou saco plástico e colocar os insetos em recipientes com pequenos furos na tampa, preferencialmente vivos. O IEPA (Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá) está recebendo esses insetos”.

Pesquisadora Josiane Muller/IEPA
Josiane Muller ressalta que nem todos os barbeiros estão infectados, “Por isso aqui no instituto podemos realizar a análise parasitológica e informar a pessoa se o inseto coletado está infectado ou não.  Hoje estamos fazendo o mapeamento dos barbeiros que ocorrem no estado, sabemos que eles existem na natureza e precisamos do auxílio da população pois temos mais de 150 espécies diferentes descritas no mundo”.


Trabalhando na busca ativa dos barbeiros!


Com referência as dúvidas que persistem entre as pessoas a pesquisadora e especialista do IEPA afirma que são comuns e que todos da instituição estão prontos para esclarecê-las. “O laboratório de Entomologia Médica do instituto tem o objetivo de pesquisar e auxiliar no controle dos vetores de doenças. Portanto, se você estiver lendo essa reportagem e encontrar um inseto parecido com esse da foto, não o descarte. A doença de Chagas não tem cura e na maioria das vezes não sabemos se temos ou não, então mude o seu olhar e se encontrar um desses pelo caminho entre em contato conosco pelo telefone: (96) 99127-9573”, concluiu Josiane Muller.

EMBRAPA

Embrapa e Prefeitura de Macapá articulam cooperação para boas práticas na fabricação do açaí



A reportagem do TA acionou a Embrapa, e atendido pela jornalista Dulcivânia Freitas, do Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa/Amapá após exposto o problema de contaminação dentro do espaço da colheita a venda ao batedor e o mérito do Branqueamento que sem dúvidas é uma grande conquista científica.

 A empresa de pesquisa se manifestou e detalhou como direciona suas pesquisas e apresentou as técnicas de melhoria de tratamento do produto diretamente naa cadeia de comercialização do Açaí.

De acordo com a instituição, do ponto de vista do manejo e do cultivo, a Embrapa dispõe de tecnologias para aprimorar essa produção. O uso das tecnologias internaliza a renda na região e conserva a biodiversidade. Por isso, o retorno do investimento em pesquisas de açaí tem sido positivo.
Uma análise sobre a relação custo beneficio no ano de 2019 demonstra que a cada R$ 1 real investido na pesquisa em manejo de açaizais nativos no Amapá e Pará, o retorno para a sociedade é de R$ 44,28. E a cada R$ 1 investido na pesquisa de plantio de açaí em terra firme, o retorno para a sociedade é de R$ 36,62.

“Esse é o retorno do ganho. Quanto você ganhava antes da tecnologia e quanto passou a ganhar depois, multiplicado pela área. No caso dos dois estados, para o manejo do açaí, Pará e Amapá, são 60 mil hectares, com cerca de R$ 2 mil por hectare; por isso esse retorno de R$ 144 milhões”, declarou o chefe-geral da Embrapa no Amapá, Nagib Melem.


O manejo do açaí é uma das atividades que geram a maior renda para as populações ribeirinhas. Os investimentos feitos em pesquisas sobre o fruto movimentaram R$ 144 milhões na Amazônia em 2019, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A Embrapa Amapá investe, junto com várias instituições parceiras, em pesquisas para as Boas Práticas de Fabricação, com o objetivo de contribuir para a prevenção da Doença de Chagas e outras.

Entre os procedimentos recomendados está o tratamento por choque térmico dos frutos de açaí, para eliminar o protozoário Trypanosoma cruzi, agente causador da Doença de Chagas, e que pode ser encontrado no inseto conhecido como barbeiro.
Pesquisadora Valeria Saldanha Bezerra 

A pesquisadora Valeria Saldanha Bezerra explica que o choque térmico deve ser feito mergulhando os frutos de açaí higienizados em água aquecida a temperatura entre 80°C a  90°C durante dez segundos. Logo depois, os frutos devem ser resfriados em outro tanque com água com temperatura ambiente, por dois minutos. A diferença de temperaturas das águas – ou o choque térmico - é que provoca a inativação do protozoário que causa a Doença de Chagas.
BRANQUEAMENTO DO AÇAÍ

Ela acrescenta que a água usada para resfriar os frutos deve também ser de boa qualidade. É aconselhável usar água clorada, por exemplo. Isso evita uma possível recontaminação do fruto por microorganismos causadores de doenças infecciosas, e que podem estar presentes na água utilizada nesse processo.  
Além de resultar em um alimento seguro para o consumidor, o choque térmico junto com todas as demais etapas das Boas Práticas de Fabricação, garante um açaí sem alteração na cor e sabor originais, de acordo com testes sensoriais realizados pela Embrapa Amapá.
“Esta recomendação vale tanto para as pequenas indústrias de polpa de açaí, quanto para as batedeiras de açaí, porque essas também são consideradas unidades de fabricação de alimentos”, destacou Valeria Bezerra, doutora em Ciência dos Alimentos.
A instituição produz  publicações que trazem dicas desde a escolho local para instalar uma batedeira, estrutura, paredes e pisos e instalações sanitárias, até o descarte. Outras recomendações são sobre o armazenamento dos frutos de açaí, a qualidade da água utilizada na batedeira, as ações de controle de pragas e animais, e a limpeza e higienização de equipamentos e utensílios. Também são apresentados os hábitos de higiene do pessoal que trabalha nas batedeiras.
“O consumidor de açaí deve estar atento ao ambiente que se processa e comercializa o açaí, verificando as condições de higiene do local e também dos funcionários, pois esses devem lavar sempre as mãos ou higienizá-las com álcool em gel, usar uniforme de cor clara, proteção no cabelo e botas de borracha”, destaca a pesquisadora.     


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