Covid-19: O
agro não para de produzir alimentos, mas quer um pouco de atenção
*Gil
Reis
A guerra que o Brasil e o mundo travam
contra o novo coronavírus (Covid-19) trouxe consequências desastrosas à
humanidade e à atividade econômica. Isolamento social, mortes a todo instante,
serviços de saúde sobrecarregados, desemprego, fechamento de empresas e governo
atordoados transformaram o cotidiano do planeta. Em meio a esse cenário
catastrófico, a população brasileira tem pelo menos uma certeza: não faltam
alimentos ao país, embora muitos passem fome bem antes da chegada do inimigo
invisível e cruel.
Um dos principais celeiros da agropecuária global,
o Brasil há muito supre a mesa de sua população graças ao trabalho do produtor
rural, que ainda fornece o excedente para garantir a segurança de outros
países, regiões e blocos, como a União Europeia, o leste europeu, a comunidade
árabe e a China. Contêineres com soja, carnes (bovina, suína e de frango),
milho, café, açúcar, suco de laranja, arroz, entre outros produtos, saem
diariamente dos portos brasileiros para alimentar o mundo.
O novo coronavírus travou o mundo e o Brasil.
Enclausurou crianças, homens e mulheres, ricos, remediados e pobres. Até os
animais de estimação estão reclusos, exceto os vira-latas. Neste cenário de
medo do inimigo que resseca a garganta, rouba o paladar, provoca tosse seca,
febre, sonolência e, em milhares de casos, leva à morte, só se movimentam os
setores essenciais, como os de saúde, segurança, transporte e o agronegócio, da
propriedade rural à indústria da alimentação.
Âncora da economia brasileira, o agro está
garantindo com tranquilidade o abastecimento do país e evitando correria a supermercados,
o que seria um desastre ainda maior, especialmente nas grandes cidades.
Consciente de sua função social, o produtor continua movimentando as máquinas
nas lavouras, cuidando dos rebanhos nas pastagens e nos confinamentos.
Simplesmente porque o agro não pode parar. Se não, morremos de fome. Nós e pelo
menos mais 1,5 bilhão de habitantes de outras partes do planeta.
Mas não foram apenas a garra do produtor rural, as
terras férteis, o sol abundante e a disponibilidade de água que criaram as
condições para que o Brasil se transformasse em potência agrícola. Há que se
reconhecer também o esforço do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) neste contexto como órgão formulador da política agrícola,
das diretrizes da sanidade animal e vegetal, da organização das cadeias
produtivas e das negociações comerciais internacionais.
O Ministério da Agricultura é uma construção
permanente iniciada em 1909, com a edição do Decreto 7.501, que criou o então
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Em 1930, a pasta ganhou foco e
passou a se chamar Ministério da Agricultura. Em 1992, nova alteração, dessa
vez para Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária. Em 1996,
muda para Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Em 2001, recebe a
denominação atual: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Não bastasse a busca de soluções urgentes para enfrentar a pandemia,
Tereza Cristina ainda tem pela frente o desafio de encontrar meios de resolver
problemas que vem impedindo um melhor desempenho do setor rural”
À época, o então ministro Marcus Vinícius Pratini
de Moraes explicou assim o objetivo da mudança: “É para dar uma nova dimensão à
produção, comercialização, inclusive com vistas à conquista de uma fatia maior
do mercado externo para a carne bovina brasileira, considerada como uma das de
melhores do mundo devido à forma como o rebanho nacional é criado – se alimenta
de pasto natural e de outros nutrientes menos danosos à saúde humana”.
Foi a largada, dada por Pratini de Moraes, para
transformar o Brasil num dos principais exportadores mundiais de proteína
animal. Isso só foi possível porque aquela altura o país já tinha expandido a
produção agropecuária para além do Sul e Sudeste, criando fronteiras agrícolas no
Centro-Oeste, no oeste baiano, no sul do Piauí e no Tocantins.
Bases que nasceram na gestão de Alysson Paulinelli
no Ministério da Agricultura (1974-1979), quando investiu na modernização da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e na ocupação do Cerrado.
Não por acaso, há uma campanha nacional para indicar Paulinelli ao Prêmio Nobel
por sua contribuição à segurança alimentar.
Na história recente do Mapa também é preciso
destacar a atuação do ex-ministro Francisco Turra, que reorganizou o sistema de
compras agrícolas e reforçou o diálogo com as diferentes cadeias produtivas.
No comando do Mapa também estão as digitais de
outro ícone do agro brasileiro: o engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues, que
esteve à frente da pasta entre 2003 e 2006. Roberto Rodrigues intensificou as
ações de abertura de mercados, aproximou a Mapa ainda mais do cooperativismo e
criou as câmaras setoriais e temáticas, incentivando o diálogo entre os
diferentes elos das cadeias para propor políticas públicas ao governo.
Desde 2019, o Mapa é comandado pela deputada
federal pelo Mato Grosso do Sul e engenheira agrônoma Tereza Cristina. Neste
momento de total incerteza e forte turbulência, Tereza Cristina não perdeu o
rumo nem a crença de que a superação da crise passará pelo agro.
Além de seguir firme nas diretrizes voltadas à
consolidação de um novo “boom” exportador e à modernização da pasta, eliminando
a burocracia e simplificando processos, Tereza Cristina busca, nestes tempos de
pandemia, garantir condições para que os agropecuaristas sigam produzindo, para
que as safras sejam transportadas do campo à cidade e para que a agroindústria
mantenha a produção de alimentos. Enfim, Tereza Cristina trabalha, mais do que
nunca, para assegurar o abastecimento do país.
Paralelamente, a ministra tem dialogado com as
diferentes cadeias produtivas e com a equipe econômica do governo para criar
instrumentos que permitam ao produtor garantir renda e preservar o máximo de
empregos possíveis no campo, além de manter a agroindústria e a comercialização
em funcionamento.
Não bastasse a busca de soluções urgentes para
enfrentar a pandemia, Tereza Cristina ainda tem pela frente o desafio de
encontrar meios de resolver problemas que vem impedindo um melhor desempenho do
setor rural. Problemas herdados pelo atual governo e que não são da competência
de seu Mapa, por dependerem diretamente da área econômica e da sensibilidade do
Congresso, como o do endividamento rural, agravado pela estiagem no Sul país.
Nesta mesma equação está a solução definitiva para
o passivo retroativo bilionário do Funrural. Uma injusta cobrança
criada pela insegurança jurídica resultante de decisão contraditórias do
Supremo Tribunal Federal (STF), que, num primeiro momento, considerou a
cobrança do Funrural inconstitucional, mas depois mudou de posição e declarou o
tributo constitucional.
Apesar do cenário enevoado, os homens e mulheres do
campo buscam divisar luz, por menor que seja, no final do túnel. Por isso, vêm
gritando por ajuda aos ouvidos moucos de algumas autoridades da República. Quem
sabe o novo coronavírus não os sensibiliza a reparar a injusta cobrança do
Funrural. Aliás, isso é uma promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro.
A base rural ainda espera vê-la cumprida.
*Consultor em agronegócios
Fonte: AGROemDIA – www.agroemdia.com.br
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