Artigo do Rei
Por Reinaldo Coelho
Meu domingo entristeceu quando recebi a noticia da passagem de Marilda Costa. Amigos eternos, crescemos próximos, estudamos juntos no IETA, Marilda Costa sempre teve posicionamentos sociais desde jovem, antes que isso virasse militância ativismo ou política ideológica.
Ela cresceu enraizada nas histórias dos negros que foram para o Bairro da Favela que os servidores do novo governo, brancos e doutores, ficassem com a área nobre de Macapá Onde eles tinham seus casebres e suas plantações de algodão e de sobrevivência.
A Favela sempre foi muito questionadora. Uma parcela dos negros foi resistente ao desalojamento e em contraposição a decisão de ir para o Laguinho foram para a Favela, que em função disso nunca foi reconhecida como tal, tendo seu nome desde o começo sido apagado pelo nome de Santa Rita (Marilda Silva da Costa. INRC Marabaixo. IPHAN, 2013).
Marilda Silva da Costa, mulher negra, de forte personalidade, nascida na cidade de Macapá, em 20 de abril de 1952, é membro da 3ª geração da árvore genealógica de Gertrudes Saturnino de Loureiro, família tradicional que marcou seu trajeto na história da cultura afro amapaense, especialmente do Marabaixo. Integra os organismos sociais, em especial os movimentos negros, interagindo e participando ativamente das ações relativas ao mesmo. Essa atuação deve-se a sua convivência como exemplo familiar de Gertrudes Saturnino e Natalina Costa, duas mulheres negras de luta e resistência.
Marilda trouxe Dona Gertrudes no sangue e criou seus posicionamentos e manteve vivo a defesa do negro amapaense. como Marabaxeira, cantora digna de ladrões do marabaixo, professora, diretora escolar, amiga e acima de tudo mulher forte e gigante na estrutura como na personalidade.
Defendia suas posições sem tréguas e procurava manter a cultura negra do Amapá sempre viva, sua casa na Avenida Duque de Caxias era de todos e ATÉ HOJE SEDIA PROJETOS CULTURAIS.
Desde muito criança convive com a cultura do Marabaixo, organizando e participando ativamente da manifestação sobretudo da realização tradicional através do CICLO DO MARABAIXO no outrora bairro da favela, onde esteve à frente de instituições da cultura do Marabaixo por mais de 25 anos, e nesse período, por diversos momentos organizou e coordenou ações.
Atuou em órgãos institucionais, tendo sido nomeada uma das Suplentes do Conselho de Cultura, cuja participação nas reuniões só ocorria quando convocada pela ausência de um conselheiro efetivo; foi eleita em dezembro de 2010 para o Conselho de Pauta do Teatro das Bacabeiras , onde permaneceu até abril de 2013. Foi assessora técnica na SEAFRO, tendo participado de grupos de trabalho para: elaboração do Projeto de Cultura Afroamapaense /Marabaixo/Batuque/Zumba e Sairé; Projeto de Capoeira- União dos Capoeiristas do Amapá, Elaboração do Projeto e Organização da II Conferência Estadual de Igualdade Racial, Projeto de Legalização da Federação de Candomblé, Umbanda e Mina Nagô -FECARUMINA, Projeto Amapá Afro, Elaboração do Projeto Saúde nos Terreiros, entre outros.
Foi membro do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial -COEPIR, representando o segmento do Marabaixo, e membro da Academia de Batuque e Marabaixo- ABM, ocupando a cadeira 21, tendo como patrono Mamédio Amaral da Silva.
Marilda foi uma mulher aguerrida, integra, ética e empoderada que luta pelos direitos e políticas públicas para o segmento tendo um imenso orgulho de sua história de vida, de sua negritude e ancestralidade.
Agora descanse e tenha PAZ com quem você sempre se ligou DEUS. A família que tenho a honra de conhecer se inspire e mantenha viva sua memória.
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