– Direito & Cidadania –
Aumento de mortes, lockdown e a Constituição Federal
Dr. Besaliel Rodrigues
A cada dia aumenta o número de
mortes por causa da Covid-19. Estamos mais vulneráveis a cada momento.
Repercute a morte de mais um senador da República (SP), de um
ex-vice-governador (GO) e de milhares de anônimos. Mas, os governantes, de
maneira inexplicavelmente temerária, insistem em medidas que não possuem
verdadeira efetividade protetiva frente ao vírus.
Também está repercutindo em todo
o país uma decisão judicial proferida pelo juiz de Direito de São Paulo Giovani
Augusto Serra Azul Guimarães, referente ao habeas corpus de soltura de Eduardo,
o cidadão comerciante preso em Ribeirão Preto. Em síntese, o magistrado
apresentou, entre outros pontos, os seguintes argumentos:
“Conforme ressabido,
de acordo com os artigos
136 e 137 da
Magna Carta brasileira,
as únicas hipóteses
em que se
podem restringir alguns
dos direitos e garantias
fundamentais são os
chamados Estado de
Defesa e o
Estado de Sítio, cuja
decretação compete ao
Presidente da República,
com aprovação do
Congresso Nacional, nos termos
dos mesmos dispositivos
constitucionais citados.
Atualmente, não vigora
nenhum desses regimes
de exceção no Brasil,
de modo que
o direito ao
trabalho, ao uso
da propriedade privada
(no caso, o estabelecimento comercial)
e à livre
circulação jamais poderiam
ser restringidos, sem
que isso configurasse patente
violação às normas
constitucionais mencionadas.
Veja-se que nem a lei poderia fazê-lo, porque, não havendo decreto
presidencial, aprovado pelo Congresso Nacional, reconhecendo Estado de Defesa
ou Estado de Sítio e estabelecendo os limites das restrições aplicáveis, tal
lei seria inconstitucional.” (...)
“Ora, estudos científicos,
nacionais e estrangeiros, a exemplo daqueles desenvolvidos por pesquisadores da
Universidade Federal de Pernambuco, pela Universidade de Stanford e pela
revista científica britânica Nature, têm demonstrando a ineficácia de medidas
como as estabelecidas nos decretos governamentais em questão, ou do chamado
lockdown, na contenção da pandemia. E a Organização Mundial da Saúde já apelou
aos governantes para que deixem de usar o lockdown, medida que ‘tem apenas uma
consequência que você nunca deve menosprezar: torna os pobres muito mais
pobres’.”.
Destarte, não negamos a
existência da pandemia, pois ela é de natureza internacional e está devastando
vidas e famílias em nosso país. Mas, uma coisa é certa: Todos estamos ficando
saturados da incompetência crônica que os governantes federativos estão
apresentando em face ao combate ao coronavirus e da inoperabilidade frente à
gestão da pandemia. Ou será que existem outros motivos ocultos sobre isso? Até
o Poder Judiciário já demonstra insatisfação com as ações implementadas pelos
demais poderes: Legislativo e Executivo.
A pandemia está aí fazendo
vítimas diárias há exato um ano (12 meses e 365 dias). Contaminados são
contados geometricamente; mortos, aritmeticamente. Entretanto, desde o início
desta crise de saúde bilhões de reais foram distribuídos a todos os entes
federativos, para montarem hospitais de campanha, comprarem respiradores para
UTIs, remédios, vacinas, contratarem profissionais, materiais de higiene,
alimentação etc. Mas, cadê tudo isso ou cadê o dinheiro?
A subprocuradora geral da República,
irresignada, notificou todos os governadores e municípios do país, concedendo
apenas 72 (setenta e duas horas) para que todos digam onde estão os hospitais
de campanha? Por que vários foram desmontados? Cadê as novas UTIs que foram
ampliadas com os recursos repassados pelo governo federal? etc. Na verdade, o
principal que a Subprocuradora quer saber é onde estão ou foram aplicados os
200 bi, isso mesmo que você leu, os duzentos bilhões de reais federais
repassados aos entes federativos subnacionais para o tratamento e combate ao
coronavirus?
No último domingo várias capitais
e diversas cidades do país tiveram suas principais vias públicas retomadas pelo
povo brasileiro, insatisfeitos com as gestões federativas. Ninguém está
aguentando mais tantas atitudes governamentais totalmente paradoxais às
verdadeiras necessidades de saúde pública coletiva e com o eixo nacional da
vontade popular.
Todo o povo já percebeu que quase
todos os governantes estão tirando proveitos inconfessáveis com esta grande
crise sanitária que nos assola. É certo que eles sabem como gerir tal situação,
como fazer o enfrentamento corretamente, como instrumentalizar as medicações
pertinentes e os tratamentos adequados. Porém, desconfia-se que dois terços dos
governantes estaduais estão fazendo um “H” pitoresco junto à população,
acreditando que estão convencendo o povo em meio a uma calamidade sem fim.
A pandemia está aí; ela existe e
deve ser combatida com estratégia e expertise. Chega de tantas atitudes
infrutíferas. O povo está clamando por ações efetivas, verdadeiras, sinceras,
não somente verbais e formais. Amém!
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