CRÔNICAS DA
AMAZÔNIA
15 de agosto: A independência da Amazônia
Por Gilberto Pinheiro (*)
Quando D. Pedro I, em 07 de setembro de 1822,
deu o grito de independência, quebrando os laços com Portugal, na realidade
apenas as Províncias do sul e do sudeste, aderiram ao novo Imperador.
Para unificar a nação, D. Pedro precisou dos trabalhos de Lorde Cochrane e do Capitão Grenfell que passaram a comandar a nossa gloriosa marinha. Papel de destaque ela exerceu nessa consolidação, pois do contrário o nosso país teria sido dividido em várias repúblicas, como aconteceu com a América espanhola.
Lorde Cochrane precisando combater os portugueses na Bahia, enviou o Capitão Grenfell para o norte com uma pequena frota. Ao chegar no Maranhão, ele aplicou um “blefe” exigindo a rendição, afirmando possuir uma grande armada e bombardearia a cidade de São Luiz, caso não aderissem à independência.
Resolvida a questão, no Maranhão, de posse da declaração de adesão da vizinha província, partiu para Belém. Ao chegar, mandou um ofício aos paraenses exigindo a capitulação sob argumento de que a capital do Grão-Pará estava bloqueada. Permitia, no entanto, aos portugueses, caso aceitassem as condições do novo governo, que suas propriedades seriam preservadas.
Em terra as
manifestações eram a favor da independência, porém, o General Moura com 600
homens, entre marinheiros e milicianos, inclusive cavalaria, não aceitaram a
proposta de Grenfell. No entanto, papel fundamental teve D. Romualdo de Souza
Coelho, que presidia a Junta Governativa, informando ao General que iria reunir
um conselho para deliberar a questão.
No dia 11 de
agosto, às 19 horas a Junta se reuniu no Palácio do Governo e o comandante das
Armas, José Maria Moura, procurava adiar a decisão do Conselho, fato que não
ocorreu, pois o povo reunido exigia a adesão. Esta reunião só terminou às 23
horas. Enfim, o Pará estava independente de Portugal, unindo-se ao Brasil.
Em 15 de agosto de
1823, foi então proclamado a adesão à independência. Vinte e uma salvas de
tiros foram dadas pelo brigue do Capitão Grenfell e respondidas pela Fortaleza
da Barra. Nesta data, portanto, foi formalizado o ato de adesão com a
comemoração do povo na rua.
Alguns
historiadores dizem, na realidade, que o onze de agosto foi a data de adesão,
pois foi quando o conselho se reuniu encerrando a sessão às 23 horas, com a
maioria aceitando a proposta de Grenfell. Em quinze de agosto de 1823, no
entanto, foi proclamada oficialmente a adesão.
O povo foi às ruas
para comemorar a independência e os patriotas, que lutaram por ela no interior,
perseguidos que estavam, retornaram à capital, exigindo que o Cônego Batista
Campos chefiasse um governo popular.
Após a descoberta
do “blefe”, o Capitão Grenfell ficou numa situação desconfortável e teve que
instalar uma nova junta governativa, porém, mantendo na mão dos portugueses o
poder. Como em toda luta, houve represálias, com saques nas residências dos
comerciantes lusitanos. O próprio Batista Campos, acusado de agitador foi, por
ordem do comandante inglês, amarrado à boca de um canhão aceso. O fato não foi
concretizado, graças à interferência de membros da junta provisória, que
intercederam sendo ele posto em liberdade.
Manifestações
populares não cessaram e Grenfell executou cinco manifestantes, aprisionando
outros 256 no Brigue Palhaço, comandado pelo Tenente Joaquim Lúcio Azevedo. Os
prisioneiros com sede e sem espaço para respirar, pediam água e, como resposta,
os soldados jogaram cal verde, matando 252 homens. Essa tragédia ficou
conhecida na Amazônia como a do “Brigue Palhaço”.
Sabemos que é
impossível numa guerra não existir derramamento de sangue e cometimento de
injustiças. Na unificação da Rússia, da China, na independência da Índia, dos
Estados Unidos e na própria América Espanhola, tais fatos ocorreram.
Seguramente, o nosso foi menor. Evidentemente, que não há concordância com a
morte de um ser humano, quanto mais de centenas, milhares e até milhões como
ocorreu na Rússia e na China.
Faz mister
ressaltar que a província do Pará englobava toda a Amazônia, e quinze de agosto
é o marco de nossa independência. Acaso não houvesse a adesão, certamente que
hoje seríamos uma República separada do Brasil. Quando os alunos do Rio Grande
do Sul estudassem geografia, sobre a localização da Amazônia, possivelmente
diriam que é um país distante que faz fronteira com o Brasil e que tem a maior
floresta tropical do planeta. Se fôssemos nos dirigir ao Maranhão, teríamos de
ter passaporte para ingressar naquela região.
O descalabro do
Capitão Grenfell ceifando a vida de inocentes, não pode jamais, suplantar os
anseios de justiça e liberdade do povo da Amazônia.
Gilberto Pinheiro (*)
É
desembargador decano do TJAP, Bacharel em Ciências Jurídicas pelo Centro de
Ensino Superior do Pará e em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do
Pará. Pós-graduado em Direito Penal Econômico e Europeu e Mestrado em Ciências Criminais na Universidade
de Coimbra – Portugal. Domina as línguas francesa e espanhola. Pertence a
Academia Amapaense de Letras, Presidente da Academia Internacional de Letras
Ambientais da Amazônia
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