sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Centenário de Nascimento da professora Deusolina Sales Farias (*29/10/1921 – †01/12/1973).

Centenário de Nascimento da professora Deusolina Sales Farias (*29/10/1921 – †01/12/1973).


Deusolina Salles Farias, nasceu em Belém do Pará, no dia 29 de outubro de 1921. Filha de Carlindo de Souza Salles e Maria Trindade Marques de Souza Salles.

Estudou seu curso primário no Grupo Escolar Benjamim Constant, em Belém do Pará, concluindo 5ª Serie com dis­tinção. Entrou para Escola Normal do Pará se formando professora em 1.941. Foi escolhida a oradora da sua turma, por unanimidade de seus colegas.

Recusou a indicação do Secretário de Educação do Estado do Pará, professor Renato Franco, para trabalhar no interior do estado.

Dois anos depois de sua formação, quando Henry Ford assentava no Tapa­jós o projeto de plantação de seringueiras, foi convidada a trabalhar em Belterra, uma das comunidades do complexo Ford, onde ficou por dois anos,



Em 1945, quando governo do Território Federal do Amapá, ha­via se instalado e se recrutava pessoal para seus quadros funcionais, se apresentou ao representante do Amapá no Estado do Pará, Sr. Benedito Amorim, que durante as entrevistas descrevia o Ama­pá em condições precaríssimas, para que os candidatos ao aceitarem a proposta para viajar para o Território do Amapá, não tivessem o impacto das reais condições que encontrariam aqui.

Decidida a enfrentar novos desafios, aceitou a proposta e se deslocou à cidade do Amapá como professora primária para lecionar no Grupo Escolar Veiga Cabral, que funcionava em um prédio de duas salas, juntamente com as professoras Cecília Pinto de Azevedo Costa, Vanda Lima Costa e mais tarde com o professor de Educação física Al­fredo de Oliveira.

Em 1946, voltou ao município de Amapá como diretora do Grupo Escolar Veiga Cabral, agora reformado e ampliado com mais salas e com mais dois professores, Maria Mercedes e Maria do Céu.

Em julho de 1946, no curso de férias, pelas ótimas médias alcança­das, ganhou uma bolsa de estuda para a Escola Nacional de Educação Física , no Rio de Janeiro. Ao realizar as provas físicas não passou em natação, não sabia nadar, e, durante o teste de salto em altura, sofreu uma distensão muscular que lhe im­pedia da realização as demais provas.



Em seguida, graças ao interesse pela educação, conseguiu uma vaga no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos pa­ra fazer o curso de Orientadora Educacional, onde concluiu com êxito e distinção.

Voltou à Macapá e, seu primeiro trabalho, foi atualizar juntamente com a professora Predicanda Amorim, Maria Lúcia e outras o currículo primá­rio padronizado para todas as escolas do extinto Território do Amapá.

Em 1947, na Faculdade Nacional de Agricultura Wenceslau Belo, no Rio de Janeiro, fez os cursos Horticultura e Economia Rural, recebendo os diplomas com merecida distinção.

Em 1950, começou a se identificar com política, sendo a maior líder dos professores durante sua jornada como mestra.



Em 1950, casou com Amaury Guimarães Farias, desse casamento nasceram cinco filhos homens Amaury, Eury, Adaury, Leury e Kleury Salles Farias e duas mulheres Deury e Gleury Salles Farias.

Foi chefe da seção do Ensino Primário e Pré-Primário, quan­do passou a ter uma grande liderança sobre os professores dos quais era defensora incorrigível.

Em face do sistema do governo, achou que uma associa­ção poderia unir os professores e, através dela, ter mais campo para suas reivindicações.

Em 02 de fevereiro de 1952, concretizou seu ideal, fundando a Associação dos Professores Primário do Amapá junto com a professora Annie Viana da Costa, Vanda Lima Costa, Lima Neto e tantos outros, cujo pensamen­to se completava para o sucesso do evento.



Mais tarde, passou a ser Sindicato dos Servidores Públicos em Educação no Estado do Amapá – SINSEPEAP.

Conseguiu com deputado Coaracy Nunes, verba para a constru­ção de um conjunto para os professores, situada na quadra compreendida en­tre as Av. Raimundo Álvares da Costa e Ernestino Borges e Rua Tiradentes e General Rondon.

Na área foram construidas a Sede da Associação dos Professores Primários do Amapá –APPA, um prédio onde  seria um cine teatro para eventos culturais dos professores,  que por alguns anos funcionou como cinema com uma máquina doada pelo governador Raul Monteiro Valdez.

Posteriormente o governador Terêncio Furtado de Mendonça Porto, em represália a diversos atos da associação dos professores, doou os terrenos para diversas entidades, como Banco do Brasil Loja Maçônica Acácia do Norte, etc.

Como Presidente da APPA, participou de todos os Congressos Nacionais para Professores Primários do Brasil, sendo mem­bro de várias diretorias da Confederação Brasileira de Professores.

Foi professora de metodologia e orientação de ensino de vá­rios cursos de férias.

Em 1954, quando Juscelino Kubitschek de Oliveira, lançou sua campanha para presidente, no Amapá, foi convidada pelo Deputado Coaracy Nunes para representar os professores e as mulheres amapaenses. Nessa ocasião, na Praça Barão do Rio Branco, falou ao futuro Presidente do Brasil: "Vá Presidente, chegue lá, a vitória é sua, mas tenha cuidado, no seu caminho Vossa Excelência vai encontrar muitas flores, muitos cardos e, também muitas feras acuadas".

Em 1958, após a morte trágica do Deputado Coaracy Nunes, do qual era uma defensora ardorosa, saiu do PSD e acompanhou seu marido Amau­ry Farias, no PTB. Ingressou na campanha do corpo a corpo, dava seu recado aos amigos para que não despertassem o ódio da di­tadura implacável do sistema territorial.

No dia 27 de setembro de 1958, em virtude de seu estado de gravidez de seu quarto filho, não pôde comparecer ao comício com seu ma­rido, e quando aguardava em sua casa, uma passeata do PSD passou em frente de sua residência jogando contra as paredes, bombas, rojões e foguetões causando pânico e o aceleramento do seu parto de forma prematura, acontecido na madrugada do dia 28, dentro de sua própria casa.

Em 1962 foi convidada e passou ser membro da CMOP - Orga­nização Mundial de Professores.

No Congresso realizado em Goiânia-GO, em 1963 conseguiu convencer os participantes que o VI Congresso Nacional de Professores primário deveria ser na margem norte do Amazonas, na cidade de Macapá, que se daria entre os dias 07 e 14 de fevereiro de 1964, porém o governador do Amapá contrário a política partidária do PTB, não deu condições para realização, ficando então, a APPA impedida de promover evento.

Num esforço inaudito, viajou para Belém e trabalhou junto ao governador do Pará, Aurélio do Carmo que, imediatamente, ante a exposição apresentada pela professora Deusolina acei­tou o encargo e proporcionou a APP todos os meios possíveis para o sucesso do Congresso.

Empresas particulares não faltaram para doar frios, refrigerantes e até passeios sem que os participantes pagassem um só centavo.



Quando do encerramento do VI Congresso Nacional de Professores, no auditório da Faculdade de Medicina do Pará, ao término de seu discurso elegendo o Amapá sua terra do coração, enaltecendo com orgulho a beleza de seus lagos, da fauna e da flora como se amapaense fosse, os professores de todo o Brasil, de pé, ovacionaram-na. Aquela mestra que não tinha hora, lugar e nem espaço, que dava tudo de sí para a educação, ao professor e a esta terra que escolheu para viver.

Em 1965, fez o curso de CADES; em dois períodos, para a cadeira de português. Como professora chegou até seus últimos dias de efetivo trabalho, dando ao Amapá e a sua gente os melhores anos de sua vida.

Em 1965, conhecendo as dificuldades do professor primário do Amapá, pois sua grande maioria era leigo, fundou o IDEA,Instituto de Direção Educacional do Amapá cujo objetivo principal era   o de atualizar e formar professo­res primários que, de algum modo, tinha realizado séries do curso ginasial ou equivalente. O Instituto foi reconhecido pela Seccional do MEC Ministério da Educação e Cultura do Pará, porém o Padre Jairo Coutinho de Moura, diretor da Divisão de Educação, pressio­nou o governador a solicitar o fechamento do Instituto que competia, naquela altura, com o IETA, Instituto de Educação do Território do Amapá.

Em 1970, o governador Ivanhoé Gonsalves Martins, depois de ouvir um discurso da professora Deusolina Salles Farias, numa solenidade educacional, convidou-a para ser a oradora oficial de Fogo Sagrado da Pá­tria, que percorreu o Brasil durante os anos de 70 e 71.

Dos seus discursos nada se tem, porque o representante da 8ª Região Militar do Pará os pegou e disse que a partir daquele momento passariam a fazer parte da memória da Pátria.

Em 1972, militante da ARENA, foi convidada para ser candidata à vereadora, porém sua campanha ficou resumida apenas ao horário do rá­dio. Amigos que acreditavam na força de sua proposta ofereciam carona para que fizesse a divulgação de suas propostas de casa em casa de outros amigos.

Muito esforço e acreditando em mudanças, a campanha com propostas sérias e sem ataques aos adversários, foi eleita com larga margem de votos.

Fato inédito para a época, seu nome apareceu em todas as seções eleitorais, pois havia sempre, em qualquer lugar, um ex-aluno da mestra ou um professor votando.

Acometida de grave câncer no estômago foi operada pela primeira vez em 31 de janeiro de 1973, antes da campanha para vereadora.

Após o pleito de novembro de 1973, foi novamente internada no hospital Belém pela segunda na tentativa de reverter a grave enfermidade, porém não quis o destino que essa modesta e humilde mulher, rica de sonhos e sentimento para com o próximo assumisse o mandato de vereadora que o povo lhe havia concedido.

Em 01 de dezembro de 1.973, na Alameda Pimenta Magalhães, em Belém do Pará, morre a professora Deusolina Salles Farias, sendo sepultada no Cemitério de Santa Isabel.

(Fonte: Amaury Guimarães Farias)
(4/12/1985) 

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