domingo, 11 de setembro de 2022

O ESQUECIMENTO DA AMAZÔNIA NO SEU DIA

 O ESQUECIMENTO DA AMAZÔNIA NO SEU DIA

 


Por Jarbas de Ataíde

         A Amazônia -- bela, forte, pujante, cantada em versos e prosas, cobiçada, desmatada, saqueada e vigiada por interesses internacionais-- agora tem um dia dedicado no calendário para lembrar suas potencialidades e desigualdades: o dia 05 de setembro, chamado “DIA DA AMAZÕNIA” e Dia da Raça.  Tudo muito poético, mas estamos esquecidos em muitos setores.   

        O que vale na saúde para o Sul ou Sudeste, muitas vezes não se aplica aqui no Norte do Brasil. Muitas medidas são ignoradas, onde o essencial, o remédio, o profissional e o leito não existem. Nem em época de eleição se valoriza as potencialidades regionais.

        Para ilustrar o atraso e descompasso vamos avaliar um documento, produzido pelo Ministério da Saúde (MS), em 2003, que fala da questão da saúde na Amazônia. O documento se chama “Saúde Amazônia: relato de processo, pressupostos, diretrizes e perspectivas de trabalho para 2004” (Ministério da Saúde, Brasília, 2003).

        O documento estabelece diretrizes e perspectivas com vistas a políticas públicas e intervenções na região. Porém, o mesmo não foi e nem é considerado pelo MS e pelas diversas Conferencias da Saúde e do Meio Ambiente, discutidos com os estados amazônicos.

        Entre muitas diretrizes descumpridas está a “sociobiodiversidade como eixo de desenvolvimento sustentável”, que prevê valorizar os saberes tradicionais, articulando-as com o saber conhecimento científico, como o uso de bioativos naturais, decorrente de diversos estudos feitos na Amazônia.

        Entre os problemas prioritários, o documento ressalta o “baixo aproveitamento da potencialidade cultural e da biodiversidade da região para pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos”. Prevalece a dependência da indústria químico-farmacêutica, que restringe possibilidades e favorece a corrupção.

       As potencialidades terapêuticas das plantas tradicionais da Amazônia e sua utilização na atenção básica, sequer é considerada pelos órgãos de interesse, não recebendo apoio no sistema de saúde local. Não há cumprimento das políticas públicas  no setor e nem incentivo aos futuros Médicos da UNIFAP.

        Existe muito discurso, mas distante das práticas e muito mais distante dos apelos coletivos.  O documento indica a ação: “ estimular o desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos  junto às instituições de pesquisa e universidades da região, recuperando e desenvolvendo o conhecimento tradicional sobre o uso de plantas medicinais” (Saúde Amazônia, 2003).

        .Essas contradições, tanto do MS, quanto dos governantes e parlamentares, comprovadas por fatos, indicam que eles continuam priorizando ações distantes dos anseios da maioria da população amazônica e de suas potencialidades.               

        Diversas ONGs, como a WWF, Grupo ORSA e grupos econômicos, têm mais conhecimento do que os gestores amazônicos sobre o tema. Com a espionagem, feita pelas ONGs, é notório que nosso saber tradicional, através da biopirataria, sair para outros países.

        A sociedade da Amazônia não pode aceitar o discurso contemplativo e conservacionista da flora, fauna e da cultura e deixar que os gestores públicos e parlamentares continuem ignorando e desprezando os conhecimentos adquiridos e sistematizados há séculos pelas comunidades tradicionais.  

        Os políticos e gestores fecham os ouvidos para o clamor das ruas e para as necessidades dos usuários; fecham os olhos para a realidade, desprezando o saber tradicional, o olhar crítico dos cientistas e estudiosos, que indicam caminhos e ações, independente de bandeira partidária.

         Minha poesia, escrita em 1989, já denunciava: estamos no meio do mundo, embora não percebemos o nosso valor. Temos rios, matas, riquezas e ar puro. Porque vivemos no Amapá. Porque vivemos no Equador. Estamos no meio do mundo. Não interessa a classe, a religião, a cor. O importante é acreditarmos a todo segundo, que a Amazônia é nossa. Que somos Amapaenses de valor”.(Fonte: Art. TA, 05.09.2013) JARBAS  ATAÍDE , 05.09.2022, DIA DA AMAZÔNIA.

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