O ESQUECIMENTO DA AMAZÔNIA NO SEU DIA
Por
Jarbas de Ataíde
A Amazônia -- bela, forte, pujante,
cantada em versos e prosas, cobiçada, desmatada, saqueada e vigiada por
interesses internacionais-- agora tem um dia dedicado no calendário para
lembrar suas potencialidades e desigualdades: o dia 05 de setembro, chamado “DIA
DA AMAZÕNIA” e Dia da Raça. Tudo
muito poético, mas estamos esquecidos em muitos setores.
O que vale na saúde para o Sul ou Sudeste,
muitas vezes não se aplica aqui no Norte do Brasil. Muitas medidas são ignoradas,
onde o essencial, o remédio, o profissional e o leito não existem. Nem em época
de eleição se valoriza as potencialidades regionais.
Para ilustrar o atraso e descompasso
vamos avaliar um documento, produzido pelo Ministério da Saúde (MS), em 2003,
que fala da questão da saúde na Amazônia. O documento se chama “Saúde Amazônia: relato de processo,
pressupostos, diretrizes e perspectivas de trabalho para 2004” (Ministério
da Saúde, Brasília, 2003).
O documento estabelece diretrizes e
perspectivas com vistas a políticas públicas e intervenções na região. Porém, o
mesmo não foi e nem é considerado pelo MS e pelas diversas Conferencias da
Saúde e do Meio Ambiente, discutidos com os estados amazônicos.
Entre muitas diretrizes descumpridas
está a “sociobiodiversidade como eixo de
desenvolvimento sustentável”, que prevê valorizar os saberes tradicionais,
articulando-as com o saber conhecimento científico, como o uso de bioativos
naturais, decorrente de diversos estudos feitos na Amazônia.
Entre os problemas prioritários, o
documento ressalta o “baixo aproveitamento da potencialidade cultural e da
biodiversidade da região para pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos
fitoterápicos”. Prevalece a dependência da indústria químico-farmacêutica,
que restringe possibilidades e favorece a corrupção.
As potencialidades terapêuticas das
plantas tradicionais da Amazônia e sua utilização na atenção básica, sequer é
considerada pelos órgãos de interesse, não recebendo apoio no sistema de saúde
local. Não há cumprimento das políticas públicas no setor e nem incentivo aos futuros Médicos
da UNIFAP.
Existe muito discurso, mas distante das
práticas e muito mais distante dos apelos coletivos. O documento indica a ação: “ estimular o desenvolvimento de medicamentos
fitoterápicos junto às instituições de
pesquisa e universidades da região, recuperando e desenvolvendo o conhecimento
tradicional sobre o uso de plantas medicinais” (Saúde Amazônia, 2003).
.Essas contradições, tanto do MS,
quanto dos governantes e parlamentares, comprovadas por fatos, indicam que eles
continuam priorizando ações distantes dos anseios da maioria da população
amazônica e de suas potencialidades.
Diversas ONGs, como a WWF, Grupo ORSA e
grupos econômicos, têm mais conhecimento do que os gestores amazônicos sobre o
tema. Com a espionagem, feita pelas ONGs, é notório que nosso saber
tradicional, através da biopirataria, sair para outros países.
A sociedade da Amazônia não pode aceitar
o discurso contemplativo e conservacionista da flora, fauna e da cultura e
deixar que os gestores públicos e parlamentares continuem ignorando e
desprezando os conhecimentos adquiridos e sistematizados há séculos pelas
comunidades tradicionais.
Os políticos e gestores fecham os
ouvidos para o clamor das ruas e para as necessidades dos usuários; fecham os
olhos para a realidade, desprezando o saber tradicional, o olhar crítico dos
cientistas e estudiosos, que indicam caminhos e ações, independente de bandeira
partidária.
Minha poesia, escrita em 1989, já
denunciava: “estamos no meio do mundo, embora não percebemos o nosso valor. Temos
rios, matas, riquezas e ar puro. Porque vivemos no Amapá. Porque vivemos no
Equador. Estamos no meio do mundo. Não interessa a classe, a religião, a cor. O
importante é acreditarmos a todo segundo, que a Amazônia é nossa. Que somos
Amapaenses de valor”.(Fonte: Art. TA, 05.09.2013) JARBAS
ATAÍDE , 05.09.2022, DIA DA AMAZÔNIA.
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