"Hoje o sistema de segurança pública segue a mesma
linha da minha época, de proteger a vida e a propriedade dos habitantes do
Amapá. Prevenir qualquer atividade contrária à ordem pública e às leis do país,
policiar os costumes, cooperar na execução de obras públicas, manter vigilância
e defender os bens do Amapá e suas autoridades”.
Inspetor Antônio da Silva Guedes –
ex-Guarda Territorial aposentado – 95 anos de idade.
Reinaldo Coelho
Esta semana estaremos escrevendo
sobre a vida de mais um pioneiro da antiga Guarda Territorial do Amapá, essa
laboriosa corporação composta de centenas de homens originários de todos os
rincões do Brasil, principalmente do norte do Pará. Lembramos com muita
gratidão o exemplo desses pioneiros. Foram desbravadores que com muita luta nos
deixaram legado da gênese da nossa Polícia Militar. Neste Domingo (17))
completou 75 anos de criação, no Governo do Coronel Janary Nunes e como uma
homenagem de reconhecimento a Policia Militar do Estado do Amapá, incorporou a
data em seu calendário e oficialmente mudou a data de 26 de novembro para 17 de
Fevereiro os festejos de sua fundação.
O pioneiro da segurança pública,
homenageado desta semana, será Antônio da Silva Guedes, natural de Florestas,
localidade do município de Afuá, que nasceu no dia 09 de março de 1924, filho
do casal de seringueiros João Cardoso Guedes e Maria Orlanda Guedes, que gerou
12 irmãos, sendo ele o caçula. “Minha infância e juventude foi toda voltada
para a vida extrativista, ajudava minha família no roçado e na extração de
látex, que era a produção que mais gerava renda na época”.
Antônio Guedes conta que aos 20 anos
de idade foi convocado para servir ao Exército Brasileiro. “Fui
alistado no município de Afuá e quando completei 20 anos fui convocado para
servir em Belém, era época da segunda guerra mundial e todos estavam sendo
chamados para compor as Forças Armadas Brasileira”.
Ele conta que infelizmente os estudos
em Florestas só era para alfabetizar e que não estudou. “Aprendi a ler
e a escrever, que na época vinha atender as minhas necessidades de trabalho,
que hoje não atende e é preciso ter curso superior, que Graças a Deus pude
favorecer aos meus 17 filhos, que são todos formados, de pedagogos a médicos”.
Ao término do serviço militar,
Antônio Guedes retornou a sua terra natal para rever seus familiares, foi
quando soube da criação do Território Federal do Amapá e que era grande a
necessidade de mão de obras de todos as profissões.
Guedes conta que ao chegar a Macapá,
em 1946, se apresentou no gabinete do então governador Janary Nunes. “Fiquei
surpreso por ser recebido pelo próprio governador que fazia as entrevistas
diretamente com os candidatos a emprego. Ao me apresentar ele me perguntou o
que tinha de profissão e ao saber que tinha servido o exército e ter uma altura
além da média e um corpanzil, decidiu: ‘Com toda essa estrutura
estais pronto para atuar na Guarda Territorial, precisamos de homens assim para
a segurança pública do Amapá”.
Ali estava decidida a vida de Antônio
Guedes, que passaria a atuar no serviço público voltado para segurança através
da Polícia. Ingressou na guarda territorial no ano de 1948. Ingressou como
guarda e 3 anos depois fez o concurso para inspetor da guarda territorial.
O serviço de policiamento do Amapá
passou a ser realizado pela Guarda Territorial, apoiando as delegacias com
armamento e pessoal de apoio. Os delegados eram Oficiais, enquanto que os
comissários eram inspetores da Guarda. Em 1945 todas as sedes dos municípios
foram dotadas de um delegado, um escrivão e guardas.
As guarnições da Guarda Territorial
ficam sediadas na Fortaleza de São José de Macapá, e o primeiro comandante de
Antônio Guedes foi o Tenente Rui Gama. “O tenente Rui Gama vinha do CPOR de
Belém e estava aqui exercendo o Comando da Guarda Territorial com a patente de
Tenente. Saíamos do trabalho pela manhã, íamos em casa, tomávamos
café e retornávamos para novamente proteger a população, abrir picadas, ser
estivador, abrir ruas, entre outros”.
Os guardas territoriais souberam
demonstrar ao longo dos anos o valor do pioneirismo diante das dificuldades
apresentadas ao advento da criação do Amapá, através da união, destemor, ordem
e galhardia, marcando sobremaneira as tradições da organização policial que
eles serviram e muitos dignificaram.
Com a Lei de criação da Polícia
Militar do Território Federal do Amapá, i n° 6.270, de 26 de
novembro de 1975, a Guarda Territorial foi sendo extinta gradativamente. Seus
componentes tiveram como opção o aproveitamento na Polícia Militar mediante
seleção ou lotados em outros órgãos da administração territorial.
No início das mudanças, Antônio
Guedes se manteve na guarnição que foi para a nova Polícia Militar e ali ajudou
a construir o Quartel Plácido de Castro. “Fomos transferidos para a
nova guarnição, a Polícia Militar, e ali passamos a integrar a nova ordem”.
Nessa época funcionava ao lada do
quartel da PM a Colônia Penal do Beirol. O comandante da instituição conhecia o
trabalho do Inspetor Guedes e o convocou para trabalhar no presídio. O Diretor
era Demorgenos Costa e assumi como Chefe da Secretaria de Colônia Penal
(Beirol), onde permaneceu até se aposentar, ele não sabe precisar as
datas. “Fiquei no cargo uns quatros a cinco anos, como já estava na
Polícia Civil, o então Diretor de Segurança e Guarda me convidou para ser
tesoureiro da Divisão de Segurança e Guarda cargo que ocupou por um bom período”.
Entre outros cargos também exerceu a
função de Chefe de Gabinete da Segurança e Guarda; Subcomandante do Gruci
(Grupo de Combate a Incêndio) que posteriormente se transformou no Corpo de
Bombeiro Militar.
Nesse período profissional, Antônio
Guedes conheceu a jovem Andradina Dias Cardoso Guedes, hoje com 87 anos de
idade, vinda do interior do Pará para completar seus estudos, ela mesma conta:
“Vim das ilhas do Pará para Macapá para estudar e aqui conheci o Antônio
Guedes, através de amigos em comum. Um dia pedi para uma prima dele, que
estudávamos juntas e pedimos para nos apresentar e após isso namoramos e
casamos”.
Como bom católico teve com sua amada
esposa que casaram em 04 de dezembro de 1956, e já completaram 64 anos de
casados. Tiveram 17 filhos, todos formados por Universidades, a maioria foi
para Belém, época que não existiam Universidades no nosso Estado. “Temos
50 netos e 12 bisnetos. Graças a Deus estão todos bem encaminhados e agradeço
muito por ter conhecido o Guedes, ele foi um excelente profissional e grande
marido, e é até hoje, pois mesmo com severidade organizou sua família e colocou
todos na trilha do bem, e rezo para que meus netos e bisnetos sempre sigam
esses ensinamentos, honradez e principalmente ser do bem e muito felizes”.
Sua filha Ângela Augusta Cardoso
Guedes, 54 anos, dois filhos e um neto, conta que honra emocionada o perfil do
seu pai, declara que ele sempre foi uma pessoa honrada, e que ensinou a todos
os filhos a linha da honestidade. “Foi excelente profissional, nunca passou
por cima de ninguém para se beneficiar. Nos deu ensinamentos valiosos para toda
a nossa vida”.
Época boa. Saudade.
ResponderExcluir