
"Não tem idade para firmar a vocação literal”, esta frase me foi dita em
maio de 2018, para este repórter, pela mestra Ana Alves de Oliveira – Educadora que estava aos 83
anos estreando na Poesia.
Quantas experiências se pode viver e quantas mudanças se pode
testemunhar em 83 anos? É nessa fase da vida, que o acúmulo de memórias e o
tempo livre propiciam o surgimento – ou a maior produtividade – de escritores.
Eles reúnem memórias pessoais, documentam épocas e, em alguns casos, dão vazão
a aptidões diferentes das vivenciadas, durante décadas, no campo de atuação
profissional. Médicos, marinheiros, engenheiros e professores aposentados se
transformam, ao primeiro título publicado, em escritores.
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Essa imagem foi captada na entrada da casa da minha mãe Zoraide Coelho, a quem ela trouxe um exemplar de seu livro de poesia |
A professora Ana Alves de Oliveira, tem um vínculo afetivo com a família
Coelho, devido ser do magistério e conterrânea de minha mãe professora Zoraide
Coelho, da qual foi diretora e supervisora na Escola Coaracy Nunes. Atuou como
articulista do Jornal Tribuna Amapaense, a convite do Jornalista Roberto Gato,
onde postou textos sobre a educação e a metodologia do ensino. Relembrando a
cidadania administrada pela educação do ex-Território Federal do Amapá.
Uma jovem normalista que veio para o Amapá, para ajudar a desbravar essa
terra Tucuju e a sabedoria do povo que aqui estava formando a nova população de
amapaenses e fez muito bem, junto com outras colegas que hoje estão aposentadas
ou partiram para os braços do Senhor e lhe estão fazendo companhia.
Ana Alves, como era mais conhecida desposou o mecânico de aeronaves do
governo do Amapá, Arlindo Oliveira, outro dos pioneiros amapaenses que partiu e
deve a ter recepcionado no paraíso.
Nesse período de viuvez professora Ana Alves se dedicou a poesia e
escrevia em cadernos suas inspirações e ambicionava lançar um livro com esses
textos. Foi quando a Biblioteca Pública Elcy Lacerda oportuniza aos novos
autores amapaenses a apresentarem seus trabalhos autorais, reunindo escritores,
poetas e poetisas, e leitores, em uma reunião onde a literatura é saboreada,
com saraus intensos.
No dia 04 de maio, mês das flores, foi a hora da professora Ana Alves de Oliveira, 83 anos, a se deliciar
em entregar aos leitores suas poesias reunidas em um livro, ‘Meus momentos de
inspiração’. “São 77 páginas de poesias e textos, retratando meus momentos. Tem
homenagens, carinhos e saudades. Estou realizada e de mais feliz”, palavras
transcritas pela educadora amapaense que se tornava poetisa.
‘Meus momentos de inspiração’ contêm poemas e prosas, onde a escritora
relembra e retrata momentos da própria vida. A amizade é o fio condutor dos
textos, que tratam de memórias, saudades e momentos felizes. A professora
sempre gostou de escrever e de guardar as construções, e para que ela pudesse,
enfim, publicar as produções, foi necessário o incentivo de familiares e de
amigos.
Ana Alves expressa sua emoção pelo livro que durou 20 anos até chegar
aos prelos e finalmente as mãos de leitores, que deverão analisar e desfrutar
do carinho das suas inspirações.
Ana Alves, partiu, mais deixou escrito nas dobras da vida e no coração
dos que lhe devotavam amizade e empatia verdadeiras perolas da educação e da
poesia.
Sinto uma dor enorme pelo seu falecimento, porque além de professora, ela
foi uma amiga de verdade que sempre esteve ao lado de minha falecida mãe em
papos regados a cafezinho e bolo caseiro, me ajudou nos momentos difíceis.
Sentirei muita falta de poder conversar com ela ou apenas encontrá-la no pátio
de sua residência em frente a nossa, na Avenida Euclides da Cunha, onde
conviveu conosco por décadas.
Tenho certeza que ela tocou a vida de muitos alunos e aluna e que todos
estão de luto no dia de hoje. Desejo muita força para sua família e que Deus a
proteja a partir de agora.
As mulheres sempre foram parte dos textos literários masculinos desde o
início dos tempos, da Eva bíblica a textos infames. No século XVIII elas
começaram a ser autoras e poetisas e hoje proliferam nas estantes e nos sites
mundial. Essa mudanças veio através da educação e a nossa nova poetisa teve
participação lá atrás na década 60, quando junto com diversas educadoras foram
participar de cursos nos Estados de São Paulo e de Minas Gerais. “Em 1965
quando uma turma de professores foi a Belo Horizonte e recebeu novas
metodologias que trouxemos para o Amapá. Nessa nova ferramenta tínhamos a
composição pratica e a criadora, e dávamos bastante ênfase para a criadora, que
não deixava de ser o início de um trabalho para o atual nível da literatura
brasileira. Nos conduzíamos as crianças a criarem os seus universos e dali
saíram bastante lindos trabalhos”.
Inspiração
Tudo começou em um evento no Dia das Mães, no Departamento de Ensino da
SEED, quando a professora Ana Alves recebeu de uma colega uma rosa amarela, que
carinhosamente assentou sob sua mesa em um vaso e logo percebeu uma sintonia
entre ela e a rosa e então resolveu passar para o papel esse sentimento.
“Primeiro fiz uma descrição, mas não fiquei satisfeita e comecei a fazer
pequenos versinhos e comecei a brincar com as palavras. Até que formatei a
poesia “Rosa Amarela”, que lidera as poesias do meu livro”.
“No jardim da vida colhemos muitas flores, mas a especial a Rosa
Amarela, da qual desabrochou minha inspiração”, é o texto de abertura do livro
de poesias de Ana Alves um agradecimento a sua inspiradora que ornamenta a capa
do livro.
As dificuldades
Como todos os escritores brasileiros, os amapaenses sofrem muito mais
para eternizarem seus escritos, devido a problemas financeiros quanto a falta
de um parque gráfico voltado para atender o mercado literário. “Procurei apoio
para lançar minhas poesias e a fui encontrar no SINDISEP e senti que ali
conseguiria imprimir minhas poesias e conversei com senhor Doelson que pediu o
espelho do livro e com o apoio da Produtora Ativa na Avenida FAB, tive meu
livro digitado e diagramado e colocado em um pen drive que entreguei no
sindicato. Passado um tempo recebi a chamada para realizar alguns ajustes. E o
livro já estava no prelo da Gráfica Rabolde Campos. Ele está com algumas falhas
de revisão geral. Peço desculpas aos leitores”.
Reação ao receber os primeiros livros foi de imensa felicidades.
“Principalmente pela recepção da gerência da Biblioteca Elcy Lacerda, na pessoa
do professor José Pastana. Está havendo um avanço na biblioteca, antigamente o
aluno ia pesquisar, hoje ele tem interatividade com os livros e com seus
autores. Estou nova nesse novo mundo da literatura, estou aprendendo, pois meu
metiê sempre foi a educação, onde navego com desenvoltura”.
Mensagem
“Aos jovens quero dizer que estou muito feliz, quando fui a gráfica e
recebi 40 exemplares do meu livro. Fiquei distanciada da realidade que meu
livro já existia e então resolvi abrir um deles e senti um vulcão de
satisfação. Tenho um Cristo na minha sala e levei meu livro para agradecer a
Deus. Estava e estou radiante de alegria. Adentrei no mundo das palavras e não
quero sair mais. Quando vejo um papel e uma caneta quero escrever. Quando a
caneta desliza no papel, é como uma debutante dançando sua valsa”.
- maio 04, 2018
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